“Com expediente com duração de apenas duas horas no Palácio do Planalto, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), assumiu nesta sexta-feira (24) a presidência do país de forma interina. Isso aconteceu devido às viagens internacionais da presidente Dilma Rousseff, do vice-presidente, Michel Temer, e do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Renan só chegou ao Palácio do Planalto às 15h55 acompanhado de seus assessores. Em sua agenda de presidente da República por um dia, ele teve reunião com as ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Helena Chagas (Comunicação Social) e, na sequência, recebeu o governador de seu Estado, Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL), para uma audiência.
Os senadores José Sarney (PMDB-AP), Zezé Perrela (PDT-MG), Gim Argello (PTB-DF) e Paulo Paim (PT-RS) também se reuniram com Renan.
O bom humor do presidente interino foi demonstrado em entrevista que concedeu, mais cedo, à rádio CBN Alagoas. Na entrevista, lembrou que é a quarta vez que exerce interinamente o cargo e, a exemplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se utilizou de metáforas “futebolísticas” para definir este momento.
“Estou feliz, mas tenho exata consciência de que interino é igual a reserva no jogo de futebol, ele esquenta o banco e só entra para valer se o titular estiver impedido.
A presidente Dilma está batendo um bolão, o Brasil sabe disso, temos uma presidente muito correta, competente e dedicada, que sabe exatamente quais são os melhores caminhos e destinos para o Brasil”, disse Renan”. (Paragráfos extraídos da matéria de Camila Campanerut do UOL, em Brasília.)
Uma mentira engole a outra, que engole a outra, por Ricardo Noblat.
“O que foi que na semana passada a ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, atribuiu à central de notícias da oposição? O que Dilma, por sua vez, chamou de “desumano e criminoso”? Lula, de ação praticada por “gente do mal”? José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, de “manobra orquestrada”? E Ruy Falcão, presidente nacional do PT, de “terrorismo eleitoral”? No sábado 18, e no dia seguinte em 13 estados, um milhão de clientes do programa Bolsa Família invadiu agências lotéricas para sacar suas mesadas fora do dia marcado. Boatos davam conta de que o programa seria extinto ou suspenso. Ou que Dilma autorizara o pagamento de um bônus. Houve quebra-quebra. A polícia foi acionada.
A ministra Maria do Rosário corrigiu-se poucas horas depois de ter pendurado na conta da oposição as consequências dos boatos. Qualificou de “singela” sua própria opinião – não mais do que “singela”. E garantiu com a inocência que Deus lhe deu: “Não quero politizar”.
Ora, ora, ora… Quem por meio de uma “manobra orquestrada” poderia fazer “terrorismo eleitoral”? Aliados do governo? Claro que não. Uma vez politizado o episódio, politizado está. Só que aos poucos ameaça se voltar contra o governo. Na melhor das hipóteses teria sido um caso de má gestão polvilhado com mentiras.
Entre as tardes do sábado e do domingo, quando pessoas em desespero se empurraram e depredaram agências lotéricas na caça ao tesouro do Bolsa Família, dois gerentes regionais da Caixa Econômica sugeriram que um erro do sistema de pagamento seria o responsável pela liberação do dinheiro em desacordo com o calendário do programa. Um deles, Hélio Duranti, do Maranhão, foi preciso. “Os boatos surgiram após um atraso no pagamento do benefício ocorrido em todo o país. A situação foi normalizada, mas muita gente procurou os caixas eletrônicos ao mesmo tempo e o dinheiro acabou”, disse ele. “Quem não encontrou ficou revoltado e quebrou os caixas”. A ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social, preferiu observar: “Não existe qualquer motivação para que a gente pudesse gerar esse tipo de intranquilidade para a população”.
Será?
A direção da Caixa Econômica atravessou a semana negando que tivesse mexido no calendário de pagamento. Até que na última sexta-feira, a Folha de S. Paulo encontrou em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza, a dona de casa Diana dos Santos, 34 anos. Na sexta anterior ela fora a um caixa eletrônico sacar os R$ 32,00 do Bolsa Família referentes a abril. Ao inserir seu cartão, sacou os R$ 32,00 de abril e os R$ 32,00 de maio.
“Recebo o Bolsa Família há anos e nunca pagaram antecipadamente”, comentou Diana. “Acho que outras pessoas receberam também, avisaram aos conhecidos e virou essa confusão”.
A Caixa inventou então outra história depois que se desmanchou no ar a história que ela vinha contando. Soltou uma nota dizendo:
– A Caixa Econômica esclarece que vem realizando, desde março, diversas melhorias no Cadastro de Informações Sociais.
Em consequência desse procedimento, na sexta-feira (17), primeiro dia do calendário de pagamentos de benefícios do Bolsa Família do mês de maio, o banco disponibilizou o saque independentemente do calendário individual.
O pagamento é feito levando-se em conta o último número do cartão magnético de cada bolsista. A Caixa liberou o dinheiro para pagar de vez a todo mundo, mas não avisou a ninguém. De resto, não explicou como uma operação dessa natureza pode melhorar seu Cadastro de Informações Sociais.
É razoável desconfiar que a Caixa mentiu outra vez.
Para mudar o sistema de pagamento do Bolsa Família permitindo saques em outras datas, o Conselho Deliberativo da Caixa teria de ser obrigatoriamente consultado – e não foi, segundo me contou um dos seus membros. Ou informado – e também não foi.
A Caixa esconde que houve uma falha no sistema, o que tornou possíveis os pagamentos fora de hora.
No dia em que a Folha pegou a mentira da Caixa, uma fonte da Polícia Federal, mediante a garantia prévia de anonimato, revelou ao O Globo em Brasília que fora localizada no Rio de Janeiro a central de telemarketing responsável pela difusão dos boatos.
Não disse o nome da central. Nem do seu proprietário. Não disse quem a contratou. Nem como a central teve acesso aos números de telefones de inscritos no Bolsa Família.
Sem acesso aos números de telefones como a central poderia disseminar boatos?
Enquanto a Polícia Federal não revelar o nome da empresa e não apresentar o criminoso que encomendou o serviço, sobreviverá a suspeita de que ela mente para livrar a cara da Caixa Econômica.”
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