Diante de um plenário esvaziado, senador goiano faz mais um apelo em vão antes de sua degola inevitável, marcada para a próxima quarta-feira: afirma que os colegas não devem se render à pressão da imprensa e da opinião pública.
O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) voltou ao plenário do Senado nesta quarta-feira para dar continuidade à defesa de seu mandato, que pode ser cassado na próxima quarta-feira por seus colegas.
E apesar de argumentar que os 20 minutos que terá para se defender daqui a dois dias não serão o bastante, Demóstenes não foi muito além do que disse em quatro das cinco sessões do Senado na semana passada: é inocente, as provas que apresentam contra ele são irregulares e, no mais irônico dos argumentos, ele será punido graças à pressão da imprensa.
Do alto da tribuna, o senador alertou a um plenário esvaziado: “É fundamental manter o alerta sobre o precedente perigosíssimo de cassar um mandato com base em ilegalidade”. “A expectativa, depois desta farsa tramada contra mim, é ampliar a confusão e a insegurança jurídica”, argumentou o goiano, acrescentando que, a partir de sua provável cassação, ficará proibido, por exemplo, informar alguém sobre uma proposição que tramita no Congresso Nacional. “Quem determinou essa regras? Onde estão escritas? Na jurisprudência do nada e da justiça de coisa nenhuma”, perguntou-se e respondeu.
“O parlamentar (no caso, ele) diz a verdade, mas ela tem muitos donos. A verdade de um não é a verdade de outros”, filosofou o parlamentar, que citou Alexis de Tocqueville e o recém-falecido ex-governador Ronaldo Cunha Lima durante seu discurso. “A verdade é óbvia e está do meu lado. Não quebrei o decoro, não cometi ilegalidades, não menti em discurso, não pratiquei irregularidades, não me envolvi em qualquer crime ou contravenção”, defendeu-se.
“Estou sacrificado por uma grande injustiça. Insisto que não há provas contra mim. Minha defesa está sendo cerceada, principalmente por causa da pressão exigida pela mídia”, disse o senador, na grande ironia de seu processo de cassação. “A única base da cassação é dar satisfação à imprensa. O Senado não vai cair na armadilha de me fazer de bode expiatório de uma crise fabricada, como foram tantas outras”, emendou, admitindo enfim a possibilidade de as acusações que ele próprio fazia do alto da tribuna contra outros colegas, há até outro dia, não serem legítimas.
Diante da insensibilidade dos colegas nos últimos dias, a defesa de Demóstenes Torres já prepara uma última alternativa para tentar evitar a cassação do cliente. A estratégia é tentar anular os votos daqueles senadores que optarem por declará-lo.
“O voto é secreto e, se algum senador quiser fazer proselitismo, anunciando o voto, ele é nulo. Posso ir ao Supremo para tornar o voto inválido”, avisou o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o kakay. “Se houver um movimento de tornar o voto aberto, em clara violação à Constituição, acho que é passível a contestação na Justiça”, completou.
A ‘ameaça’ não comoveu senadores como Ana Amélia (PP-RS), que sustentava, nesta segunda-feira, a intenção de declarar seu voto pela cassação. “STF mantem voto secreto nas cassações de mandato! Jah abri meu voto pela cassação de Demostenes Torres! Eh juizo politico!”, escreveu a senadora em seu perfil no Twitter.
BRASIL 247 – 09 de Julho de 2012
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